PREFÁCIO
"Desde há muito tempo que Luís Abisague acalentava escrever um livro de poemas dedicado à sua amada terra de adopção.
Logo nos seus primeiros escritos, amiúde eram patentes um poema aqui, outro acolá que o autor ia compilando com aquela secreta esperança de um dia tornar esse sonho realidade.
O tempo passa. A trajectória da vida levou-o a viajar pela Áustria, agora a Inglaterra. E onde quer que se encontrasse, a Póvoa, sempre a Póvoa, bem perto do seu coração.
E eis que surge Póvoa Feiticeira. Um percurso genuíno, sincero dos passos do autor pela sua amada terra, visitando cada recanto, descrevendo cada pormenor, alimentando esperanças, lançando gritos de alerta se agridem a sua amada.
Depois, o mar, o mar imenso que refresca o seu imaginário, que o inspira, no qual se refugia para nele lançar as suas emoções, os seus segredos, as suas desesperanças.
É vê-lo alta madrugada, gozando a magia de um pôr-do- -sol que se esvai em rubras estrias sobre um de sonhos e de esperança.
É vê-lo noite dentro, em horas de solidão e desconforto, refugiando-se junto dele, caminhando descalço pela praia, deixando ali marcados sobre a areia os seus passos cerrados, lentos, na esperança de encontrar o aconchego do Deus em
quem confia e que ternamente o acalenta nos seus braços.
Depois, o relembrar dos seus heróis, das suas gentes, sempre presentes na sensibilidade do seu coração de poeta, seres que canta com entusiasmo e com dedicação e reconhecimento inexorável.
A sua linguagem simples mas plena de cor e de magia levam-nos a percorrer caminhos com sabores a mar, onde o amor se esconde em cada esquina.
Como ousar recusar a mergulhar por entre estes versos que nos enchem de emoção e de alegria e nos enternecem os nossos sentimentos?
Leia, leia o sentir profundo do poeta-pastor-emigrante que do altar aonde esteja nos lança gritos cheios de alegria e de vigor como que a dizer-nos: Eu canto, eu canto para ti o mar imenso, o mar infindo, porque é lindo e me faz cantar!"
José Sepúlveda
NOTA DO AUTOR
Estas palavras são o agradecimento e confissão de alguém que não cabe dentro de si, por ter conquistado mais uma etapa e realizado mais um sonho há muito acalentado.
Com toda a sinceridade, nunca pensei chegar aqui. Quando recuo dez ou quinze anos atrás e penso nos meus projectos de então, vejo que muita coisa mudou, o que só foi possível porque muitas pessoas se juntaram a mim e me ajudaram a desbravar caminhos que sozinho jamais teria transposto.
Logicamente que nessa altura já acreditava que, se me aplicasse, poderia ir um pouco mais além nesse sonho de ser poeta. Só que pensar que algum dia chegaria até aqui estava fora desse meu imaginário.
Quando comecei a preparar o meu primeiro livro – “O Arco-Íris” –, senti o que todos os caloiros sentem em tais ocasiões, um misto de ansiedade e de prazer, mas havia sempre algo que me impelia, mesmo quando a dureza da vida travava o ser mais ousado que existe dentro de mim.
Calma e silenciosamente, fui mergulhando com diligência nesse sonho, com o firme propósito de deixar uma lembrança aos meus filhos e netos.
Aproveitando as interrupções laborais e a pacatez da noite, em que as ideias fluem mais facilmente, tal velhinha, fui fiando em minha “roca” palavra após palavra, neste idealismo enraizado dentro de mim. Fui tentando passar para o papel o eco poético que me brotava das entranhas da alma sem nunca me preocupar com vocábulos eruditos mas sim com palavras que o coração pudesse ouvir, gritar e expirar.
Com esse propósito de tentar versejar, saltei a janela da fantasia e de peito aberto percorri ruas e caminhos dessa louca aventura – ser poeta. Algumas vezes, no silêncio do meu quarto, outras no rebuliço das máquinas que na fábrica nos ensurdece. Parando aqui, começando ali, sempre com o sabor amargo de ter deixado o nosso cantinho à beira-mar plantado e que é dono do nosso coração.
Flutuando nesse meu imaginário, letra a letra fui formando palavras e delas nasceu o segundo livro – “Sonhos Flutuantes”. Este livro era o cumprir de uma promessa de em cada dia procurar crescer.
Quero aqui expressar a minha gratidão para com todos aqueles que, ensinando e aconselhando, me ajudaram e manifestaram regozijo quando do seu aparecimento.
Depois veio o lançamento de O Drama de Sofia, que teve este ano a sua segunda edição. É por isso que não posso esquecer o estímulo daqueles que desde a primeira hora estão metidos nesta aventura comigo, prescindindo de horas de lazer para me ensinar, aconselhar, corrigir… Entre todos, destaco o meu melhor e mais antigo amigo, José Luís Sepúlveda, a quem dedico este livro.
Conheço-o já lá vão quarenta anos,
Pessoa activa, sempre tão discreta,
Um trovador, um mestre entre os decanos.
Predestinado para ser poeta.
A poesia corre-lhe na alma,
Como se sangue fosse em minhas veias,
Por entre simpatia, imensa calma,
Florescem aos milhões suas ideias
Que nos trazem conforto ao coração
E quando a vida em gesto deprimente
Transforma os sonhos mero papelão
Um gesto amigo, abraço, confiança,
Nos fazem pressentir que somos gente
Fazendo renascer a esperança
Os conhecedores da nossa língua, com sensibilidade para as coisas do espírito, irão encontrar algumas imperfeições. A esses peço benevolência para comigo e que nas palavras que encontrarão ao longo destas páginas vejam somente o sentimento e a visão de um homem simples que um dia deixou as ovelhas em Bormela, arribou à Póvoa de Varzim e se apaixonou pelo seu mar, pelos imensos areais e que ao longo dos anos assistiu à metamorfose duma urbe em crescimento que, não sendo de ninguém, é um pouco de todos nós, recebendo-o de braços abertos e adoptando-o como filho. Serei sempre um peixe do seu mar.
Um agradecimento final às pessoas que nunca se cansaram nem cansarão de me acarinhar e animar. É graças ao seu estímulo que estou a aprender a voar, a bater as asas e lançar- -me aos ventos sobre o espaço da poesia sem fim. Como resultado de tudo isso, reconhecido deixo em suas mãos “Póvoa Feiticeira”.
Com amizade,
Luís Abisague